segunda-feira, 27 de junho de 2011

Essential Killing (2010)


Director: Jerzy Skolimowski

"É a jornada angustiante e (des)norteada de um homem encurralado - primeiro na paisagem lunar do Afeganistão com seus ardentes desertos e inquietas ravinas, depois na paisagem igualmente lunar, na florestas refrigeradas do norte, talvez na Polónia ou na Noruega, tanto faz. E também quase tanto faz tratar-se de um homem. Neste caso um Talibã, capturado pelos militares americanos, ensurdecido por um disparo de helicóptero, torturado e deslocalizado para estas paragens do primeiro mundo, onde a fuga e os assassinatos em série acontecem porque simplesmente se proporcionam. Diz-se um homem, podia tratar-se de uma daquelas raposas desorientadas, perseguidas pela algazarra da matilha de Beagles e estranhos seres de casaca encarnada montados noutros animais galopantes. Ou aquelas que preferem roer a própria pata para escaparem da armadilha. Este foge, porque sim. E mata, porque sim, também. Porque tem de ser, a sobrevivência é mesmo assim crua, silenciosa, brutal, selvagem, obstinada. E essencial, como diz a versão original do título, Essential Killing.

Nas mãos de Skolimowski ele torna-se um thriller existencial, minimalista, em que o barbudo afegão (só sabemos que ele se chama Mohammed pelos créditos finais), não pronuncia uma única palavra ao longo do filme. Limita-se arfar, a gemer, a urrar, a tremer de medo e de frio, a matar a fome e as pessoas também a frio, a alucinar também no frio - pelos vistos também podem acontecer miragens em desertos gelados. É uma interpretação gutural, de uma fisicalidade absoluta, e que garantiu a Vicent Gallo o prémio de melhor actor no Festival de Veneza - aliás, o próprio filme saiu premiado...

...Através de panorâmicas gerais, travellings aéreos, a exibir a pequenez deste animal ferido que vai deixando rasto na paisagem - a neve é um denunciante implacável para um fugitivo ensanguentado -, ou de planos subjectivos, com um design sonoro absolutamente notável e torturante. Matas ou és morto: a absurda lei da vida."

Ana Margarida de Carvalho

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Biutiful (2010)


Director: Alejandro González Iñarritu

Biutiful é a consagração do cinema de Inarritu, é a consagração da sua visão trágica e pessimista da vida. Biutiful é a também a consagração de um actor que dá tudo ao cinema. Javier Bardem, uma espécie de De Niro do cinema contemporâneo. O realizador explora o anti-herói moderno (referência de Clint nos filmes de Leone), um homem que vive duas realidades distintas. Se por um lado Uxbal é um pai dedicado, ainda que num contexto familiar degradado, por outro é um homem que vive do submundo do crime. Apesar de ter um lado humano grande, ele não deixa de fazer isso por dinheiro.
Aqui o sonho deixou de existir e o expoente desta visão é a de Uxbal pois foi-lhe diagnosticado um cancro. Todas as personagens parecem caminhar para um fatalismo catastrófico e caótico. O aspecto visual e estético (ainda que reduzido) é visto num panorama de degradação social e humano, aliás como é habitual no realizador. Multiculturalidade, exploração infantil e primitiva, tráfico, corrupção, tudo isto nos subúrbios de Barcelona. Inarritu quis também pegar nesse contraste onde a realidade negra e crua se mistura com a liberdade e o cosmopolitismo da cidade.
Acima de tudo Biutiful é o extraordinário retrato do lado negro da vida sob o olhar de um homem atormentado e sem esperança.

sábado, 18 de junho de 2011

Os filmes que me marcaram

Uma lista com os filmes que mais me marcaram:

1 - C'era una volta il west - Sergio Leone - 1968
2 - The Shawshank Redemption - Frank Darabont - 1994
3 - The Lord of the Rings - Peter Jackson - 2001,2002,2003
4 - 12 Angry Men - Sydney Lumet - 1957
5 - Birdman of Alcatraz - John Frankenheimer - 1962
6 - Pulp Fiction - Quentin Tarantino - 1994
7 - Goodfellas - Martin Scorsese - 1990
8 - A Clockwork Orange - Stanley Kubrick - 1971
9 - The Assassination of Jesse James - Andrew Dominik - 2007
10 - The Treasure of Sierra Madre - John Huston - 1948

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pickpocket (1959)

Director: Robert Bresson

Foi o 1º filme de Bresson que vi, mas fiquei perplexo com a incrível mudança que ele criou no cenário do cinema. É escusado estar aqui referenciar todos os moldes do seu trabalho, porque muito já se falou. Apenas queria referir que Pickpocket foi sem dúvida o filme mais inexpressivo que vi. Mas a inexpressividade do cinema de Bresson vai de encontro à sua forte exigência para com outros aspectos, como a importância do acto (filme filmado, quanto a mim, em género de actos isolados), a genialidade da materialização dos actos (fantástica aquela sequência de roubos na estação). Nota-se que a mesma só foi possível ser exímia devido à austeridade do autor. Outro aspecto refere-se à narrativa, seca e vazia, mas com pontos paradoxais, com clara influência do escritor russo Dostoievski (pelos livros que li dele, notei essa similaridade). Resta-me continuar a ver a obra deste grande realizador francês, outrora notável e esplêndido para muitos dos que fizeram parte da nouvelle vague.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Il Postino (1994)

Director: Michael Radford

Il Postino é um hino à amizade, ao amor, à simplicidade da vida e à poesia. A poesia é um fio condutor para se tornar numa metáfora relativa ao filme. Il Postino é uma comédia, um drama, um romance, o que lhe quiserem chamar. Aquilo que fica para a história é um dos filmes mais belos e mais puros que o cinema já proporcionou. É bela a inocência de Mario Ruoppolo (Massimo Troisi, num papel simplesmente brilhante). A forma como cativa Pablo Neruda (Philippe Noiret), a amizade pura que se vai criando entre os dois, o significado da natureza na poesia, e acima de tudo o lirismo que brilhanteia todo o filme. O ambiente político que existe no plano de fundo torna-se redutor perante o produto principal da fita que é sem dúvida a amizade e o amor pela vida.
É um filme que vive também muito da magia do cinema italiano e isso, felizmente, sente-se.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nineteen Eighty Four (1984)

Director: Michael Radford

Num cenário apocalíptico, 1984 centra-se numa sociedade distópica onde não pode haver lugar a sentimentos nem interesses individuais. Não li o livro, portanto não posso fazer uma comparação com o filme e aquilo que posso reter é o que visualizei. Michael Radford pegou num tema brilhante para explorar, é certo que já explorado por muitos antes. Mas conseguiu trazer humanismo e esperança (tem de existir apesar de todo o caos que está patenteada nos cenários) numa fita onde o ambiente sombrio e despadaçado é figura principal. George Orwell, autor do livro descreveu um cenário hiperbolesco das consequências dos regimes totalitários. O autor alerta para o capitalismo desmesurado que as sociedades modernas enfrentam. O filme tem, portanto toda uma vertente sociológica que é vista sob o olhar de Winston Smith (John Hurt). O colectivismo prevalece sobre o individualismo, a consciência dá lugar à automatização e racionalização. O que interessa é a ignorância das massas. Todos os movimentos da população são vigiados pelos polícias do pensamento, homens que não são mais do que verdadeiras máquinas de obediência ao Grande Irmão.
Resumindo o livro é uma verdadeira mensagem intemporal.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Blood Simple (1984)

Director: Joel and Ethan Coen

A primeira longa metragem dos irmãos Coen tem muito de tenebroso, misterioso, negro e muita sorrealidade. Aliás, é precisamente neste ponto que a fita tem mais potencialidade percebendo-se claramente a influência de Lynch. Blood Simple é um filme tão negro que arrasta consigo quatro personagens que expelem o seu lado mais negro e psicótico. A exaustão da mente humana é a grande peça do tabuleiro de jogo em que estão inseridos as personagens. Os Coen deixam também antever algumas das suas características nas suas fitas mais recentes. O Texas como plano de fundo, Francis Mcdormand, algum toque de humor negro, e acontecimentos surreais constantes que acabam por moldar o filme na extensiva.